Guardiões da Informação ou Vigias da Multidão?

Por muito tempo, saber o que era importante no mundo estava nas mãos de poucos. Os jornais, os noticiários e os grandes meios de comunicação eram os guardiões da informação, decidiam o que passava pelos portões e o que ficava de fora. A isso chamamos gatekeeping. Mas hoje, com as redes sociais e as plataformas digitais, esse poder já não é exclusivo. Surge o gatewatching, uma nova realidade onde qualquer um pode partilhar, comentar e fazer circular o conteúdo. E aqui, mais do que nunca, precisamos de parar para pensar.
Há quem celebre esta mudança como uma grande vitória da liberdade. E há mérito nisso, nunca foi tão fácil ouvir novas vozes, escapar aos filtros tradicionais, conhecer o que a imprensa ignorava. No entanto, a liberdade vem com riscos. Quando qualquer pessoa pode "vigiar os portões" e até decidir o que deve ou não ser lido, abrimos espaço não só para mais informação, mas também para mais ruído. A verdade é esta: nem toda a informação é boa informação.
O gatewatching não traz formação jornalística, nem compromisso com a verdade. Traz opiniões, partilhas impulsivas, manchetes mal interpretadas e até vídeos fora do contexto. Traz também um novo perigo, o da desinformação bem-intencionada, partilhada por quem acredita, mas não confirma. E enquanto isso, os algoritmos, invisíveis e silenciosos, decidem o que nos mostram com base nos nossos cliques e não na relevância.
Estamos a trocar o jornalismo crítico pelo imediatismo emocional. Estamos a confundir liberdade de partilha com autoridade sobre os factos. E estamos, sobretudo, a esquecer que a informação deve ser um bem comum, não um campo de batalha entre likes e partilhas.
Isso significa que devemos voltar a confiar cegamente nos meios tradicionais? Claro que não. O gatekeeping clássico também tem os seus vícios, como os interesses económicos a as agendas políticas. Mas o caminho não está em destruir o portão. Está em abrir espaço para novos vigilantes, mais conscientes, mais informados, mais exigentes.
O futuro da informação não é um jogo de tudo ou nada. O jornalismo não pode morrer à custa dos comentários nas redes socias, nem os cidadãos devem ser tratados como espectadores passivos. Precisamos de um novo equilíbrio, onde o gatewatching complemente o gatekeeping, sem o substituir. Onde a voz do público tenha peso, mas onde a verdade não seja sacrificada em nome da viralidade.
Podemos mesmo mudar o rumo? Sim. Mas só se começarmos por aceitar que a responsabilidade de informar e de nos informarmos já não é apenas dos outros. É também nossa. E é urgente.
João Henriques / M14939/ Jornalismo