O Declínio do Jornalismo no Pós-Internet: Sintomas de um problema estrutural

03-03-2025

O advento da Internet provocou uma revolução no Jornalismo tradicional tal como o conhecíamos. Trouxe muitas coisas boas, mas também coisas más. Alguns falam numa "Crise dos Mídias", no entanto, eu não sou assim tão fatalista. Há que abraçar a inovação de modo a potencializar as oportunidades que estas novas ferramentas nos proporcionam. Por exemplo, a troca de formatos de papel para o digital pode ser uma mais valia tanto económica como ambiental.

Atualmente, temos todas as informações que possamos desejar prontamente disponíveis na ponta dos nossos dedos, e essas informações, para bem ou para mal, podem ser produzidas por qualquer pessoa.

É verdade que a desinformação e as notícias falsas são um espinho nas costas do Jornalismo, mas quando não o foram? Há milénios que a desinformação existe e há milénios que certas pessoas se aproveitam dela para os mais variados fins, desde políticos a pessoais. Mais recentemente, surgiram os deep fakes proporcionados pela Inteligência Artificial, no entanto, até que ponto isso não é a evolução de um problema pré-existente ao qual nos temos de continuamente adaptar?

Acima de tudo, considero que será necessário mais autorregulamentação por parte dos órgãos de comunicação social, em qualquer formato que sejam, de modo a não propagarem informações erróneas e a perderem legitimidade.

O mesmo se aplica a qualquer pessoa com uma câmara que decida produzir conteúdos informativas, quer seja um influencer com um estúdio que recebe vários convidados de renome e tem uma grande base de visualizações; ou um "jornalista amador" que estava no local certo na hora certa para capturar um acontecimento de interesse público.

A meu ver, esta democratização da produção de conteúdos não é necessariamente má. Não obstante disso, embora estes produtores não sigam um código ético como os jornalistas, deviam ter mais consciência do que estão a fazer e as consequências que isso poderá acarretar para a sociedade. Para além disso, os anunciantes escolhem muitas vezes publicitarem as suas marcas junto destes influencers, retirando uma grande parte da margem de lucro aos órgãos mediáticos.

No entanto, acredito que o problema vai para além da implementação e do mau uso das novas tecnologias. Nos dias que correm, não é apenas o Jornalismo que se encontra em decadência. A crise que vivemos atualmente surge do desgaste das próprias Democracias, a que está intimamente ligada esta perda de confiança no Jornalismo.

Hoje em dia, a sociedade é dominada por valores como o materialismo, o hedonismo ou o imediatismo; e face às crises económicas que atormentam as Democracias Ocidentais, as pessoas estão cada vez mais viradas para os autoritarismos e os governos fortes como uma alternativa face à instabilidade em que vivem.

Em última instância, e por mais provas que sejam fornecidas, as pessoas acreditam no que quiserem acreditar, e este clima é propício a ideologias antidemocráticas nas quais o verdadeiro jornalismo alguma vez poderá vingar. Podemos, por exemplo, olhar para Donald Trump e a caracterização que fez dos media durante a última campanha eleitoral norte-americana. Os jornalistas foram reduzidos e despersonalizados a "fake news" e receberam ameaças implícitas. Já durante a presidência de Trump, foi decidido que apenas alguns órgãos mediáticos pré-aprovados pela própria administração têm o direito de comparecer na Casa Branca e cobrir os assuntos presidenciais. Não é de surpreender que de entre estes meios pré-aprovados estejam canais de extrema-direita como o "The Gateway Pundit". Mas não se esperava menos de um bando de cultistas que muito provavelmente leem os "The Turner Diaries" religiosamente todas as noites.

Portanto, considero que isto é um problema complexo e, acima de tudo, estrutural. É necessária uma maior valorização dos média por parte da população e de entidades cívicas, de modo a diminuir a dependência em anunciantes e visualizações. Mas para isso é necessário criarmos uma população instruída nos princípios e na valorização da democracia. Uma população instruída nestes valores, na minha opinião, está menos propícia a ser influenciada por criadores de conteúdos sem credibilidade, e procurará informações junto de fontes fidedignas, como os jornalistas.

Tomás Quaresma;

Jornalismo,

M14621.

Crie o seu site grátis! Este site foi criado com a Webnode. Crie o seu gratuitamente agora! Comece agora