Tempo ganho é credibilidade perdida? O dilema da velocidade no ciberjornalismo

05-03-2025

Um dos principais desafios do jornalismo moderno é a dualidade entre a rapidez que o novo ecossistema digital traz e o tempo de verificação, inerente à profissão. Termos como o "imperativo da instantaneidade" mina uma das tarefas mais importantes na construção jornalística, a verificação dos fatos.

Apesar de hoje muitos considerarem a necessidade da velocidade no jornalismo como algo negativo, o tempo e a rapidez sempre foram, desde o início da profissão, uma ferramenta importante. O jornalismo sempre buscou tecnologia para se tornar mais rápido, mais eficaz, e garantir a sua premissa básica: a "transmissão rápida e percetível de informação".

Cada passo da evolução tecnológica do jornalismo o permitiu ser mais rápido: a rotativa permitia produzir uma quantidade enorme de jornais muito mais rápido, a via ferroviária e, eventualmente, o telégrafo, permitiam a informação chegar tão rápida como nunca, com "notícias de ontem" na cobertura da Guerra Civil Americana.

Relacionado a isso, os públicos também mudaram a sua forma de consumir (e interagir) com as notícias desde à altura do telégrafo. Passados algumas décadas, a popularização da internet e, por consequência, das redes sociais, trouxe outro fator importante para uma mudança constante do produto final do jornalismo.

Para um (ciber)jornal se destacar não basta as notícias serem de ontem, mas sim de agora, o instantâneo. E assim voltamos para o problema da verificação: "verificar exige contactos com colegas e fontes, pesquisas documentais, consulta de arquivos, cruzamentos, são tarefas que consomem muito tempo". Como o jornalista arranja tempo para fazer tudo isso, escrever a notícia e publicar antes que seu concorrente? Porque se o concorrente tiver o furo, ele terá o público, as visualizações, os cliques, a "fama".

Mas engane-se quem pensa que aquele que dá a notícia "primeiro" é aquele que ganha, sempre, o destaque dos consumidores de notícias. A rapidez é fundamental, mas assim como a credibilidade. De que serve ser o primeiro a dar a notícia se quem a lê, espera pelo jornal mais fiável para confirmar a notícia?

Enquanto a competitividade feroz e a extrema necessidade de estar sempre em pole position na apresentação de notícias, enquanto o instantâneo for o padrão para os jornais na era digital, a superficialidade vai tornar-se no padrão de qualidade do conteúdo. Porém, a solução não é tão simples quanto simplesmente diminuir o tempo e produzir com mais calma, como fazem os alternativos jornais de "jornalismo lento", que é uma tentativa válida e que, cria conteúdos profundos e bem desenvolvidos, mas não têm uma renda garantida e modelo de negócio estável.

No fim do dia, o jornalismo ainda é um negócio e a informação o seu produto. E quando o público já tem a informação, menos valor ela tem. Portanto, a pergunta de um milhão de euros é como é possível, se for possível, equilibrar um jornalismo de rigor e factual, com o tempo limitado que é preciso para sair por cima da concorrência e garantir a subsistência da empresa.


João Lima 

Paulo Perestrelo

Paulo Sérgio Nunes

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